Projecto de continuidade desenvolvido com o Curso de Produção Artística – Cerâmica da Escola Artística António Arroio
Foi a partir da exposição “O desenho impreciso de cada rosto humano, reflectido! Retratos de Júlio Pomar” (2020-2021), com colaboração e acompanhamento tutorial da diretora do Atelier-Museu Júlio Pomar, Sara Antónia Matos, e leitura do livro “Duas Cartilhas” (livro editado pelo Atelier-Museu em 2019, o qual oferece um “retrato” do artista), que se planificou o trabalho a realizar com a turma do 11º ano do Curso de Produção Artística – Cerâmica da Escola Artística António Arroio.
É relevante dizer que os alunos que desenvolveram este projecto de continuidade com o Atelier-Museu, no princípio do ano e do trabalho, ainda não se conheciam. No 10º ano, todas as turmas, na disciplina de Projeto e Tecnologias, têm uma experiência de sensibilização para a formação disponível na escola, designadamente os quatro cursos existentes, passando por várias equipas pedagógicas de professores e oficinas. Só depois desta experiência, no fim do ano lectivo, escolhem o curso e especialização que pretendem frequentar.
Respondendo ao repto lançado pelo Atelier-Museu Júlio Pomar, na sequência de anos e colaborações precedentes, decidiu-se trabalhar o tema “Retrato”, conscientes de que isso desencadearia um processo de aproximação e de conhecimento entre os alunos – particularmente sensível após um período de confinamento, consequente redução de contactos sociais e distanciamentos físicos.
Tendo em conta a diversidade de obras e retratos representados por Júlio Pomar, este projecto trouxe ainda a oportunidade para chamar a atenção dos alunos para assuntos da atualidade como o racismo, a xenofobia, a crise dos refugiados, a questão da devolução de obras de arte aos seus países de origem, entre outros temas. Sublinharam-se as vivências e as experiências pessoais, como factores múltiplos de diferenciação, a respeitar.
– Sortearam-se os pares para cada aluno retratar.
– Elaborou-se um guião (perguntas/respostas) com o objectivo de traçar um retrato psicológico, que simultaneamente serviu de gatilho para uma conversa entre os pares.
– Fizeram-se visitas presenciais ao Atelier-Museu Júlio Pomar, respeitando as regras de segurança, para ver a exposição em causa.
– Assistiu-se a uma visita guiada com a presença e apresentação dos curadores: Sara Antónia Matos e Pedro Faro.
– Organizaram-se sessões de trabalho e de desenho no Atelier-Museu Júlio Pomar, em frente das obras de Júlio Pomar.
Para desenvolver o trabalho plástico, em barro, desenho e outros materiais, tiveram-se em consideração ideias de Júlio Pomar, relativas à forma, ao conteúdo, etc., discutidas no livro referenciado:
«Forma?
É a coisificação do que é pensável.»
[Júlio Pomar]
Os alunos conversaram, escreveram e desenharam, sempre em pares, construindo assim as imagens uns dos outros.
Também se retrataram a partir de estudos que fizeram da História do Retrato, na pintura e na escultura, ao longo dos tempos.
Retrataram-se a partir de sombras, depois de sensibilizados à obra de Lourdes de Castro, realizando uma escultura em lastras.
Retrataram-se em painel de azulejos, depois de observarem as várias formas e técnicas de representação nos retratos da exposição de Júlio Pomar.
Desenvolveram capacidades de observação visual ao modelar a cabeça do colega com o máximo realismo possível.
«Forma ou conteúdo?
Não há uma coisa sem a outra.»
[Júlio Pomar]
Transformaram a cabeça modelada acrescentando elementos do retrato psicológico.
Sobre esta última etapa, realizaram um portefólio e uma apresentação à turma com a presença de Sara Antónia Matos.
O trabalho decorreu durante dois períodos lectivos.
Com alguma frequência, por videoconferência, todos os alunos apresentavam o processo e os resultados do seu trabalho a toda a turma. Enquanto o retratado recebia com emoção a nova imagem de si mesmo, o retratista expunha-se a toda a turma, criando assim mais imagens/verdades.
«O que é a verdade?
A verdade é qualquer coisa que se desloca na nossa mente na medida em que a gente a procura. Procuramos transformar uma suposição numa coisa concreta e ela desloca-se para outro sítio. Isto é a sua qualidade própria e não vale a pena sentirmo-nos desconfortáveis.»
[Júlio Pomar]
Curso de Produção Artística – Cerâmica, da Escola Artística António Arroio
A equipe de professores:
Elsa Gonçalves
Mariana Fernandes
Paulo Oscar
Referência Bibliográfica:
Duas Cartilhas – Júlio Pomar: O artista fala…Conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro, Coleção Cadernos do Atelier-Museu Júlio Pomar /DOCUMENTA, 2019.